segunda-feira, 9 de março de 2009

Língua portuguesa - Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,¹
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Olavo Bilac

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1. "A expressão "Última flor do Lácio, inculta e bela" é usada para designar a língua portuguesa, considerada a última das filhas do latim (que nasceu na região do Lácio, na Itália, por isso "flor do Lácio"). O termo inculta fica por conta de todos aqueles que a maltratam ao falar e escrever de forma incorrecta, mas que não a tornam por isto menos bela."


Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 — Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1918) foi jornalista e poeta brasileiro e membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias. Fez faculdade de Medicina até o quinto ano e apesar do grande talento, largou o curso e foi estudar Direito em São Paulo, mas foi no Rio de Janeiro que ingressou com muito êxito na imprensa literária. Considerado o maior poeta parnasiano brasileiro e também autor do Hino à Bandeira Nacional.

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